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5 fatores que vão influenciar o mercado automotivo em 2024

Mobilidade Verde, incentivos fiscais, taxa de juros e eletrificação serão os desafios para o setor no ano que se inicia

Desafio. Essa é a palavra que o setor de veículos e mobilidade mais repete nos últimos anos. E não será diferente para os próximos 12 meses. Diversos fatores vão influenciar diretamente o mercado automotivo, com obstáculos com os quais a indústria como um todo terá de lidar.

Um deles é o aguardado Mobilidade Verde, o Mover, nova fase do Rota 2030, que demorou, mas foi divulgado nas últimas horas de 2023. Mas fatores como taxas de juros, eletrificação com novos players e a polêmica em torno dos incentivos fiscais regionais também vão dar o tom do setor automotivo em 2024.

Automotive Business conversou com consultores de mercado para entender qual será o impacto destas questões na cadeia no ano. E como o setor automotivo pode lidar com esses fatores (e desafios) ao longo do próximo ano.

1- Mover – segundo ciclo do Rota 2030

A segunda fase do Rota 2030, chamada de Mobilidade Verde (Mover), parece reforma de igreja. Sua publicação foi muito aguardada pelo mercado automotivo e, enfim, aconteceu. Agora, a obra interminável segue com as regulamentações que vão trazer os detalhes e métricas do regime automotivo.

As regras do programa serão o fiel da balança no planejamento de investimentos das grandes fabricantes, já que o Mover define desde condições e atrativos para localização da produção até incentivos à pesquisa e desenvolvimento, tecnologias de segurança para os veículos e metas de descarbonização.

Trata-se da tal previsibilidade que as montadoras tanto pedem. E que vai direcionar os aportes e produtos futuros.

“A segunda fase do programa incentiva mais o uso do etanol, atrelado à hibridização. Investimentos, principalmente nessas áreas, devem ser os drivers da indústria automotiva brasileira”, diz Fernando Trujillo, da S&P Global Mobility.

Porém, há um receio de que a indústria, com a demora do Rota 2030, fique ainda mais “atrasada” nesta fase de transição energética. Para Milad Kalume Neto, da Jato Dynamics, o Brasil já voltou a ficar defasado em termos de produtos e tecnologias automotivas nos últimos anos e precisa de um planejamento a médio e longo prazo.

“Não defendo que a gente tenha produto de ponta como na Alemanha e faça carro para poucos. Mas precisamos de produtos capazes de chamar a atenção do mundo, principalmente em questões de eficiência e redução de emissões”, diz.

O consultor defende que o país seja seguidor de tecnologias, mas que tenha planos para as adotar localmente. Para ele, o Mobilidade Verde tem de ter isso bastante claro para termos competitividade. “Trazer solução pronta faz parte do jogo. Mas até onde a gente vai ter indústria? Até quando vamos ter uma indústria para abastecer o mercado de veículos a combustão?”, questiona.

2- Hibridização como próximo passo

Como dito, o Mover é um dos fatores que impactam o mercado automotivo, assim como uma de suas mais importantes diretrizes: as metas de descarbonização da indústria.

Ao que tudo indica, o país seguirá forte na adoção do híbrido flex como ponte para uma transição energética até a eletrificação total. Diante da realidade brasileira, é um processo mais lógico.

“Os investimentos em híbridos flex são uma grande oportunidade para os fornecedores para diversificar e ampliar seus portfólios. E diferente do puro elétrico, com o veículo híbrido não provocará disrupção na cadeia de suprimentos, pois os componentes e sistemas hoje utilizados nos veículos a combustão vão continuar necessários”, ressalta Trujillo.

Apesar de StellantisRenaultVolkswagen e Nissan, além da Toyota, já estarem com investimentos em curso neste sentido, o caminho será ainda gradual e discreto em 2024, esperam os analistas.

“Tais investimentos vão ser necessários para a cadeia de suprimentos conseguir acompanhar esse mercado pelo período projetado de hibridização no Brasil, que é bem mais longo comparado com outros mercados como Europa”, diz o executivo da S&P, que prevê um market share de 40% de híbridos em 2030.

Em contrapartida, em 2024, a volta do imposto sobre eletrificados deve ser um dos fatores que vai impactar negativamente esse mercado automotivo especificamente. Ou seja, a participação das vendas de carros elétricos e híbridos não deve superar em muito os 4% de 2023.

“Até os híbridos chegarem onde interessa, vai demorar. E criando barreiras aos importados, a tecnologia vai levar mais tempo para chegar aqui”, critica Milad, que tem uma visão mais pessimista para a transição energética no Brasil.

“A virada de chave será um pouco mais para a frente. Este ano, com aumento de imposto e com restrição da cota, o máximo é um mercado de eletrificados estável. Aposto que os eletrificados chegam a 9% só em 2030”, afirma.

3- O avanço das novas marcas

Curiosamente, um dos fatores que podem impactar a competitividade do mercado automotivo eletrificado é a chegada forte de duas chinesas. Em especial a Great Wall Motors (GWM Brasil), que começará a produção do SUV híbrido Haval H6 no segundo semestre de 2024, em Iracemápolis (SP).

“Com produção local, os volumes sempre tendem a crescer. A GWM está fazendo investimentos para ganhar mais mercado, assim como a BYD, e os chineses estão focados em híbridos e elétricos. Com certeza essas plantas vão ajudar o mercado de veículos eletrificados a ganhar mercado”, aposta Trujillo.

A BYD, por sua vez, só vai inaugurar a unidade de Camaçari (BA) em 2025. Porém, este ano, vai ampliar ainda mais a gama de elétricos no Brasil com o lançamento do subcompacto Seagull  – que aqui deve se chamar Dolphin Mini -, além do SUV U8 e do esportivo U9, da sua divisão de alto luxo Yangwang.

Sem contar que mais duas marcas chinesas preparam ofensivas elétricas no mercado automotivo brasileiro em 2024. A Seres, que já lançou uma linha de veículos zero combustão, e a Chery, que trará duas novas marcas em operação independente da Caoa.

4- Incerteza sobre o mercado em 2024

A famigerada Selic será um fator preponderante para o mercado automotivo em 2024. Há um consenso entre economistas e analistas do setor que a taxa de juros seguirá em ritmo de queda. O que vai contribuir para um crescimento, ainda que discreto, das vendas de veículos no país.

A previsão da S&P Global aponta para uma taxa de 9% a.a. até o fim do ano – contra 13,75% no apagar das luzes de 2023. “Ainda não é a ideal, mas já traz margem para os juros automotivos ficarem mais próximos da casa dos 22%, 23% ao ano”, explica Fernando Trujillo.

Enquanto o ritmo menor do agronegócio e a queda do PIB jogarão contra, outros fatores vão aquecer o mercado automotivo em 2024, como a demanda reprimida e a queda da inflação. Desta forma, a S&P prevê um aumento de 6,5% nos licenciamentos.

Fora as vendas para frotistas, que, apesar da previsão de menos emplacamentos que no ano passado, ainda vão representar mais de 40% dos licenciamentos totais.

“As locadoras renovam suas frotas todo ano, e ainda tem o aumento dos serviços de carro por aluguel. Pode ser que, com o desempenho de 2023, essas vendas em 2024 sejam um pouco menores, mas nada muito preocupante. E essa queda deve ser compensada com as vendas no varejo”, completa Trujillo.

5- Guerra por incentivos

A polêmica política de incentivos fiscais já provocou a celeuma entre as marcas e deve continuar a ser um fator de impacto no mercado automotivo – ainda mais depois de prorrogada até 2032.

A treta deve prosseguir nos próximos meses, porém, a ameaça de algumas montadoras de congelarem investimentos tende a ser apenas uma forma de pressionar o governo.

“Claro que vai haver uma guerra, pois você está favorecendo algumas empresas. Quem foi favorecido lá atrás e não está sendo agora porque não é a bola da vez, se tiver algum problema maior, até pode rever investimentos. Investidor gosta de tranquilidade e planejamento de longo prazo”, acredita Milad, da Jato.

“Acredito que seja mais um jogo político. Não acredito que as montadoras do Sudeste e Sul vão deixar de investir por conta dessa prorrogação. Se eles deixarem realmente de investir, vão perder ainda mais mercado, o que pode comprometer suas operações locais”, observa Trujillo, da S&P.

Fonte: Automotive Business