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Com caminhões autônomos, Mercedes-Benz redesenha futuro do segmento
Empresa testa veículos com a tecnologia, prepara Euro 6 e mira em modelos eletrificados sem esquecer do etanol e outras brasilidades
Lá atrás, em 1955, a Mercedes-Benz redefiniu a matriz energética dos caminhões no Brasil ao começar a produção local de motores diesel. Agora, mais de seis décadas de estrada depois, a companhia quer dar impulso a outra revolução: a do transporte eficiente e sustentável. Para isso, lança mão de veículos equipados com direção autônoma e aposta em um futuro eletrificado, mas sem esquecer dos biocombustíveis brasileiros.
Uma sinalização clara desse movimento foi dada em 2017, quando a organização anunciava investimento de mais de R$ 2 bilhões na modernização de suas duas fábricas instaladas no país, em São Bernardo do Campo (SP) e Juiz de Fora (MG). Naquele momento, mais do que preparar suas linhas para produzir novos veículos — como o pesado Actros, seu primeiro filho nascido dentro do contexto de indústria 4.0 –, a montadora iniciava ali uma nova jornada e dobrava a aposta em um futuro mais sustentável e tecnológico para o setor de transportes no Brasil.
“O mercado mudou muito nos últimos anos. Se antes a conta do frotista considerava apenas o transporte de um ponto A até um ponto B ao menor custo possível, hoje o cálculo inclui também outras variáveis como o volume de emissões”, disse Daniel Spinelli, diretor de desenvolvimento de produto. |
“A demanda também envolve custo, como em toda operação, mas tem origem principalmente em novas políticas ambientais adotadas pelas cidades e pelos clientes dos embarcadores”, complementa. Quando se fala em custo e sustentabilidade no universo dos caminhões, se fala basicamente de powertrain. É sobre o conjunto propulsor que a equipe de desenvolvimento da empresa se debruça no momento pensando nas aplicações atuais e nas futuras.
Começando pelas requisições do momento, a Mercedes-Benz vem trabalhando na oferta de veículos equipados com motores Euro 6 para o mercado brasileiro, considerando a chegada das obrigações estipuladas pela fase P8 do Proconve – programa de controle de emissões veiculares.
“Hoje a nossa grande meta de curto prazo é o lançamento do portfólio Euro 6. É o que está no topo das prioridades. Imagina realizar os processos de engenharia, de testes nos veículos e em pista, durante a pandemia. Foi um grande desafio para nós pela questão dos protocolos de distanciamento, de reunir a equipe”, conta Spinelli. |
Ele complementa: “Tivemos de interromper o processo e retomamos recentemente, já com o cronograma apertado”, contou, que está na empresa há 25 anos e regressou há pouco da operação alemã da companhia.
PROPULSÃO REINVENTADA |
Para se adequar ao Proconve P8, os fabricantes de caminhões e ônibus do Brasil obrigatoriamente terão que adotar motorização com sistemas de pós-tratamento Euro 6 a partir de 2023. Afora os testes em caminhões, no ano passado começaram também os primeiros experimentos locais envolvendo chassis de ônibus equipados com este tipo de motorização que a montadora já fornece no exterior.
Olhando para a frente, a área de desenvolvimento da companhia já estuda novas aplicações de combustíveis, como aquelas que envolvem o HVO, chamado também de diesel verde, as que envolvem biogás e, ainda de forma embrionária, o hidrogênio.
“Essas são as próximas prioridades, sempre pensando que o cliente terá uma pressão maior em termos de custos e de emissões. Estamos envolvidos em uma série de projetos que envolvem estes novos combustíveis, mas o avanço deles nas estradas dependem também de políticas públicas de infraestrutura”, comenta o diretor da Mercedes-Benz.
REVOLUÇÃO ELÉTRICA E AUTÔNOMA |
Eletrificação também é um tema relevante dentro da engenharia brasileira da montadora, que atua de forma integrada com a equipe sediada na Alemanha. O desenvolvimento de powertrain elétrico, no entanto, segue no Brasil a um ritmo diferente daquele imprimido pela montadora nos seus principais mercados, como é o caso do europeu e do asiático.
“A nossa caminhada no país será um pouco mais lenta do que na Europa. Aqui temos os biocombustíveis como uma alternativa interessante de transição rumo à emissão zero”, diz. E complementa:
“Ao longo dessa mudança, o país também precisa melhorar a estrutura para receber essa nova gama de veículos do futuro. O kilowatt-hora (kWh) tem um custo que inviabiliza certas operações, quando falamos de transporte de carga. Ainda são poucos os pontos de recarga tanto de eletricidade quanto de biogás”, explica Spinelli. |
Veículos autônomos também estão na pauta da área de desenvolvimento da Mercedes-Benz e já existem algumas atividades em curso envolvendo projetos-piloto, segundo o diretor: “Temos uma equipe que passa muito tempo falando com parceiros que fornecem sistemas automatizados. Nossa ambição é ter um veículo autônomo que opera em lugares privados, como na operação do agronegócio, por exemplo”.
Ele se refere ao caminhão autônomo Axor 3131, desenvolvido em parceria com a Grunner para realizar atividades no transbordo de colheita de cana por meio de uma tecnologia baseada em localização via GPS. Na operação, o veículo percorre trechos da plantação ladeado por uma colheitadeira, que recolhe a cana e despeja a cana picada no implemento do caminhão, que tem capacidade de carga em torno de 20 toneladas.
Spinelli entende, no entanto, que essa revolução não deve se restringir ao universo agrícola: “O mercado está passando por uma transformação com o crescimento das compras pela internet, as mudanças no varejo e no transporte em geral”, lembra.
“Temos a missão de segmentar a oferta, de oferecer soluções sob medida para cada setor e necessidade”, diz, apontando para um desafio dos próximos anos. |
O IMPULSO DO ESG |
As três letras do ESG carregam um significado grande. Traduzida do inglês para o português, a sigla trata de como uma empresa lida com as questões meio ambiente, sustentabilidade e governança corporativa. Representam, também, como empresas de transporte de cargas e de passageiros vão gerir com suas frotas para atenderem às demandas dessa nova métrica empresarial, já que o ESG passa a entrar na conta da competitividade e da estratégia para atrair investimentos e clientes.
Para Roberto Leoncini, vice-presidente de vendas da Mercedes-Benz, o movimento ganha força no país e já representa um importante impulso de venda de caminhões que proporcionam menor impacto ambiental em suas aplicações, ainda que em menores volumes por enquanto:
“Existe uma demanda agora em função do ESG de alguns embarcadores internacionais. Isso é um movimento que vai virar 80% do mercado? Acredito que não. Mas, de qualquer maneira, cria uma pressão para que se estimule o surgimento de algumas alternativas. No Brasil, diferentemente do que ocorre na Europa, há pouco incentivo para a adoção de novas tecnologias, tanto para quem compra quanto para quem fabrica”, explicou o executivo.
“A gente precisa olhar para o hemisfério Norte, mas temos no país opções interessantes de redução de emissões como é o caso do etanol, do HVO, que já reduzem o nível de emissão dos veículos sem que se faça muitas alterações nos veículos”, finalizou.
Fonte: Automotive Business